Na tarde do último dia do Seminário Racismo, Igualdade e Políticas Públicas em Brasília, o debate ficou por conta da participação do negro (a) nos espaços de poder. Jurema Werneck, uma das mais conhecidas integrantes do Movimento das Mulheres Negras do país, ressaltou que dia 31 de março, “data que se comemora o Golpe de 1964 é sempre uma boa data para discutir os paradoxos da democracia”. Em seu discurso Werneck deixou claro que enquanto “existir o racismo não existirá a democracia.

Eliana Graça, assessora política do Inesc, frisou que é muito pouco democrático um parlamento que não representa satisfatoriamente cada parcela da população. Essa subrepresentação influencia nas pautas propostas, na maneira como elas são discutidas e na aprovação ou não dos textos. Um exemplo é o Estatuto da Igualdade Racial, cujo texto aprovado desagradou à grande maioria dos representantes da classe. Se existissem mais parlamentares negros, certamente, o estatuto não teria obtido aprovação no formato em que obteve”, exemplifica Eliana.

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Paula Bauduíno de Melo, doutoranda em antropologia pela UnB, que atua com os temas relações raciais, quilombos, movimentos sociais e políticas públicas também contribuiu no debate lembrando-se de um episodio que ocorreu há nove anos, quando o reitor da Universidade de Brasília confundiu alunos negros da Universidade com africanos. Ela defendeu que é necessária uma política de cotas para a pós-graduação. “Nesses espaços a desigualdade é ainda maior. Dos seis mil doutores que se formam por ano, menos um 1% é negro. 99% dos professores universitários são brancos”ressaltou que a política de cotas é importante – Nosso Coletivo Negro.

Para Ollie Johnson, professor do Departamento de Ciência Política e Estudos da Wayne State University, em Detroit, Michigan, nos Estados Unidos, os negros americanos enfrentam muito mais racismo que o Brasil. “O número de negros (as) no país é de 13%, no entanto, mais da metade está na cadeia. Nosso presidente que é negro não está fazendo nada para mudar esse quadro”, afirmou.

Na parte da manhã, o tema da mesa foi mesa Políticas Públicas de Promoção da Igualdade Racial. Rosana Heringer, professora da Universidade Federal do Rio, especialista em desigualdades raciais, políticas de ação afirmativa, discriminação racial, cidadania e direitos humanos, apontou como um dos problemas a limitação dos dos órgãos criados para promoção da igualdade racial, em especial a Seppir, para o exercício de suas atividades, tanto do ponto de vista técnico e orçamentário como de legitimidade política. Segundo Rosana, essas condições limitam inclusive a implementação das diretrizes dos planos nacionais resultantes das conferências temáticas, como a de Igualdade Racial e Políticas para Mulheres.

Apesar das críticas, especificamente em relação às políticas de ação afirmativa no ensino superior, a socióloga destaca importantes avanços. Para situar o público sobre o universo a que está se referindo, Rosana Heringer informa que, em 2008, a proporção de pessoas de 25 anos ou mais que concluíram o ensino superior foi de 9,7%. Entre pessoas brancas, o índice foi de 14,3%; entre as pretas e pardas foi de 4,7%.

Levando-se em conta o período de 2000 a 2008, é inegável que houve uma ampliação do número de jovens de 18 a 24 anos no ensino superior, passando de 22,6% para 44,5%. E ainda que entre negros tenha passado de 8,1% para 18,7%, para os brancos passou de 34,1% para 60,3%.

Fonte: Inesc.org.br

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