Para contrariar as estatísticas, basta o jovem ter vontade e oportunidade, que ele busque conhecimento e se articule, portanto, “se a história é nossa, deixa que nós escreve”.


Acredito que todo mundo já sabe quais são as perspectivas de um jovem que mora em uma comunidade periférica, não é mesmo? Porém levamos em conta dois fatores que atuam de maneira divergente para estas perspectivas. O fator número 1 se resume nos jovens que são influenciados pela mídia capitalista, estes são os que sonham em ser jogadores de futebol, dançarinas ou cantores de pagode, atores e etc. A mídia influencia estes jovens com o fato de que traz luxo, fama, dinheiro rápido. O segundo fator é a vivência que estes jovens têm em suas comunidades, muitos crescem vendo a polícia invadindo suas comunidades brutalmente e exterminando nossos amigos, como eu já presenciei várias vezes estes acontecimentos e nada acontece para punir os culpados, além do tráfico de drogas, onde muitos se desbandam para esse caminho. Aí você tem: a falta de ensino publico de qualidade, a falta de infraestrutura nas comunidades e um monte de coisa aglomerada, que se eu escrever aqui, vira livro, mas o que é de maior gravidade é a falta de oportunidade para o jovem conseguir o 1º emprego.

Mas eu te convido para fazer uma pequena reflexão: você imagina um jovem que sonha em ser jogador, ele não consegue progredir no sonho, pois o pai ou a mãe (solteira na maioria das vezes) não teve condições de arcar com as despesas para mantê-lo no clube de futebol. Ele cresce e vê a necessidade de trabalhar para ajudar a família, pois na casa vivem, além dele, a mãe, a irmã, e um irmão pequeno, todos sobrevivem de uma ajuda de um programa pelo Governo Federal, R$92,00. Ele não consegue o 1º emprego, pois as empresas exigem que ele tenha experiência para trabalhar. A vivência deste jovem é passar todo dia em frente a uma boca de fumo, e perto de sua casa muitas pessoas usam droga, daí eu passo a bola para vocês: qual será o destino deste jovem?

Você pensou errado, este jovem sou eu, contrariei e continuo contrariando as estatísticas e tudo que vem pela frente!!

Depois do Mídia Periférica tudo mudou em minha vida. Eu sempre tive algo preso dentro de mim que me ajudava, e ainda me ajuda a aliviar os problemas, porém eu não sabia como liberar isso, mas eu tinha algumas pistas para descobrir o que era (rsrs). É que eu gosto muito de conversar, sou um baita tagarela, e também gosto muito de fazer pelo social, pela comunidade onde moro, sou bastante reivindicador. Comecei, então, a fazer as oficinas de Direito a Comunicação e produção de vídeo com o Paulo Rogério e a Ivana Dorali, do Instituto Mídia Étnica, em um projeto do UNFPA/ONU, em Sussuarana, minha comunidade. Foi quando eu descobrir minha vocação para a comunicação. Tivemos oficinas de grafite com Marcos Costa, de rádio com DJ Branco e de fotografia com Eduardo Tavares, tivemos outras oficinas temáticas, mas eu friso as que envolveram comunicação. Foi a partir daí que criamos o Mídia Periférica, que para mim é como um punho no rosto da sociedade opressora, e particularmente no rosto daqueles que não acreditavam em mim, humilhavam a mim e a minha família por nos considerar um tanto inferiores a eles, muitas vezes me batiam na rua e minha mãe, por ser mãe solteira, não tinha punho para fazer nada – é a essa que agradeço por ser hoje o jovem que sou.

As ações que faço são primeiramente para fortalecer as comunidades, e para mostrar aos irmãos e irmãs que para revidarmos o tapa na cara que a sociedade nos dá, não precisamos burlar leis, nos vender ao sistema capitalista e nem abaixar a cabeça para eles. Hoje, o Mídia Periférica significa muito para mim, escrevo para um Revista Nacional feita por jovens de todo Brasil, a Viração! Sou colaborador na maior Rede Social Afrodescendente que é o Correio Nagô, além de ser um dos representantes da Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Comunicadores, isso tudo consegui com a ajuda de pessoas que me deram e dão direcionamento e eu não teria conseguido sem o Mídia Periférica. Finalizando, eu acredito que para contrariar as estatísticas, basta o jovem ter vontade e oportunidade, que ele busque conhecimento e se articule, portanto, “se a história é nossa, deixa que nós escreve”.

Enderson Araújo – Jovem Comunicador
Coordenador do Mídia Periférica
Colaborador na Revista Viração – Agência Jovem de Noticias
Correio Nagô – Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Comunicadores

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